domingo, 2 de novembro de 2014

Cemitério



Nunca tive medo deles. Na infância, minha mãe me levava sempre, pois cuidava do túmulo da família. Desde muito cedo era lugar comum. Um ritual mensal de visita, pois lá estavam minha avó, avô e uma tia, que como minha avó e minha mãe morreram antes de envelhecer, de chegar a tal melhor idade. 

Foi uma emoção inevitável ao ver Volver, do Almodóvar, sentir uma cumplicidade transcultural ao encontrar as mulheres cuidado de seus mortos( tão vivos, tão presentes). Também foi um momento singular a leitura da Solidão dos Moribundos, livro do Nobert Elias, pois veio cheio de reencontros com momentos da infância no Sertão, onde nós crianças colhíamos flores para vestir nossos mortos, parentes, amigos ou vizinhos. Então isso descortinou o medo de Morte. Mas hoje, depois de um filho, não de morrer…

Esse anos, depois de mais de uma década, reencontrei o Cemitério de minha infância ao me despedir de Ivontônio, amigo querido que partiu, coincidentemente no mesmo dia que minha mãe, e bem mais novo que ela. Entrei naquele lugar como numa casa antiga, conhecida e misteriosa… Para guardar o que ainda iria existir por um pouco de tempo, e constatar que que o Eterno que há nas pessoas transcende qualquer espaço físico e o ritual dos mortos…

Depois de guardar meu amigo fui sozinha aquele lugar da infância onde só encontrava a fotos dos avós e tia, e vi lá uma foto que havia feito de minha mãe. Acho que a melhor foto dela que já fiz pois conseguiu, milagrosamente, captar aquele olhar que para mim sempre sorriu.


Na memória de tudo que vivemos e do Todo nos encontramos, e nos deixamos partir em paz.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

UNIVERSIDADE E ELEIÇÕES: UM DEBATE NECESSÁRIO


Último dia 16 fui surpreendida pelo noticiário local e também por informações nas redes sociais sobre o tumulto na Universidade Federal da Paraíba, gerado por tensões entre parte da comunidade universitária, participantes de um Ato em defesa dos atuais candidatos à Presidência da República e Justiça Eleitoral, que resultou na intervenção da polícia militar na UFPB.


O acontecimento me chamou a atenção não só a partir dos argumentos de estudantes, docentes e técnicos da Instituição favoráveis ou contrários à intervenção da polícia no Campus, e todos os desdobramentos desse fato, realmente lamentável, na imprensa e sobretudo no cotidiano da Universidade. Mas, especialmente, pelo fato que ao longo dos anos paira sobre o ambiente universitário, sob meu ponto de vista, o esvaziamento do debate sobre o ensino superior nas plataformas dos candidatos.

Senti uma lacuna tremenda da presença da Universidade no debate público sobre as Eleições 2014. É claro que é terminantemente proibido pela legislação manifestações partidárias na instituição. De outro modo percebo que muitas categorias e segmentos sociais vêm colocando suas demandas e problematizando seu contexto de atuação e questionando os Programas de Governo de muitos candidatos. A UFPB ao longo de sua história contribuiu de forma excepcional também para a formação política de várias gerações, não é por acaso que muitos dos candidatos e parlamentares eleitos começaram sua trajetória política na Universidade, ou integram os quadros da Instituição.

No entanto, contraditoriamente, há mais recentemente  um esvaziamento da ação política da comunidade universitária - observando a política para além do partidarismo. 

Há poucos dias penso que o tempo é bem restrito para se discutir com os candidatos os pontos que para nós são estratégicos para o avanço das políticas de fomento à pesquisa, à estrutura das Universidades, à carreira docente, a economia do conhecimento e seu papel no desenvolvimento local sustentável, entre outros temas tão pertinentes porém que não se fazem visíveis.

Tomara que essa tensão provocada pelo acirramento da disputa nas Eleições 2014 possa, quem sabe, nos fazer pensar além das cores e bandeiras, e  oxalá consiga retirar a Universidade de um lugar secundário ou de invisibilidade dos Programas de Governo dos candidatos.