sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De que é feito o tempo afinal?

"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;Tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;
Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria
Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de afastar e de afastar-se de abraçar;Tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;Tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz". (Eclesiastes 3:1-8). Me pergunto de que é feito o tempo afinal? De tantas mesclas... E a imagem que me vem neste último dia do ano é da Aurora Boreal que vi representada recentemente numa animação japonesa em tons sombrios. E penso às vezes que o tempo é a Caverna de Platão de cada um. Um invólucro “invisível”, o casulo onde são nutridas nossas mudanças, muitas vezes involuntárias. Torço apenas para que esta aparição de um Ciclo Novo, através da cronologia de 2011, possa nos trazer mais sabedoria para viver estas dinâmicas presentes no texto bíblico acima, que de certo modo fala das contradições e acima de tudo das complexidades que envolvem os ciclos de morte-renascimento cotidianos.
Ao desejar bom Ano fico sentindo a pele que deixo para trás, abraço o silêncio, me sinto um pouco “Afonsina vestida de Mar( como na música cantada por Mercedes Sosa), Innana que excursionou nas profundezas; um pouco uma pessoa invisível(na metrópole) descrita nos quadrinhos de Will Eisner. Acho que porque carrego comigo a idéia correta de que muitas sementes brotam da Escuridão da Terra.
E lembro-me do meu amigo Adriano, que quando sai de sua Terra do Nunca - seu lugar de origem que não posso dizer o nome - , afirma estar atravessando um Portal. Como no Labirinto do Fauno cada um tem o Portal que sua imaginação permite. Este é um dos meus, a escrita.
E é através dela que gostaria de desejar sinceramente aos meus amigos e amigas de verdade (não aqueles que te sorriem e te cortam pelas costas e os utilitaristas) um bom ciclo, que começou dia 21, com o Verão, vai seguindo com estas datas festivas, que de algum modo colocam as pessoas em interação, em dívidas, solidão, entusiasmo, migrações, reencontros, reconciliações, etc. Agradeço por momentos singelos compartilhados, e torço para que Tempos de Paz sejam uma realidade.
Abraços,
Sandra Raquew
“Tempo rei, ó Tempo rei, ó Tempo rei, transformai as velhas formas do viver (Gilberto Gil)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Mis classes de español!

Desde cedo fui defrontada com a necessidade de lugares secretos, imaginários ou concretos, enquanto territórios vitais, espaços de sobrevivência simbólica. Algo assim como o asteróide B612, para o Pequeno Príncipe, ou como o quarto descrito por Virgínia Wolf. Ultimamente me delicio con mis classes de español, na UFCG. É na Sala 4 que semanalmente me permito atravessar um portal que rompe meu cotidiano apressado, e me possibilita mergulhar em direção a uma esfera imaterial repleta de sentidos.
Estas aulas são hoje meu realismo fantástico em que a experiência de aprender/viver um idioma estabelece uma conexão profunda com um desejo de sobrevivência constante e resistência possível à automação da vida. Nestas curtas 4 horas semanais observo meus colegas, seus sorrisos, diferenças, trajetórias, acentos, estilos, liberdade, pois somos um pouco mais nós mesmos vinculados por uma língua distinta que constrói laços...
O aprendizado ali inclui o demasiado humano, as nuances, as emoções, a humildade em reconhecer o não saber, a curiosidade para entrar na toca do coelho (tal qual Alice no País das Maravilhas), e seguir tecendo novas jornadas de um conhecimento lingüístico, que é racional, mas, complexo, o transcende.
É nesta transcendência de mis classes de español que respiro mais, sorrio mais, me coloco em contato com outras redes de significação através do diálogo com meu professor Misael, meus colegas, e, sobretudo comigo mesma, com minhas vontades.
Descubro novos sons como Buika, Bebe, Diego Torres, revejo Almodóvar, escuto novamente meus CDs de Inti Illimani, Pablo Milanez, Fito Paez, Mercedes Sosa, Buena Vista Social Club, Gotan Project e Los Tres. Troco idéias com Pilar Roca, Montes-Bradley e Jorge e Mônica Gonzalez. Retomo minha correspondência com minha querida amiga Coca Trillini. Descubro os Irmãos Vargas, suas fotografias em Arequipa(como esta que ilustra este texto), no início do século passado. Me delicio com o cinema hispânico e latino-americano, percebendo novas visualidades, entrando e saindo de universos particulares e de realidades que são pouco retratadas nos jornais e TVs.
Viajo também no tempo ao lembrar meus primeiros contatos com o idioma através da escuta das músicas do Menudo, em espanhol. Da minha viagem travessa para conhecer à fronteira do Brasil com a Bolívia, e as diferentes travessias pelo Chile, e a visão de parte dos Andes, observar de cima los cumbres, dormir entre as montanhas e banhar-me nas águas geladas da Cordilheira.
Neste portal sagrado que são mis classes de español o desejo presente de mochilar me devora, me reconecta com as paisagens que se Deus permitir, ainda quero trilhar porque de fatos são estes meus profundos exercícios de ver tantos mundos que uma língua se esforça para traduzir. Experiência de sentido, luz e mistério.
Ao meu professor Misael e aos colegas do Espanhol II

terça-feira, 22 de junho de 2010

Saramago

Quando Saramago morreu tive um sentimento, penso que compartilhado por muitos, de que se vai um pouco da humanidade, do humanismo, da tradução da capacidade de transcendência de um ateu, mais crente na Vida do que muitos confessos.
 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Silêncio

Há dias em que a vida parece um grande hiato.
E também existem momentos em que a gente se sente num escrito de Kafka, no Castelo.
Percebo que às vezes as pessoas clamam por si mesmas sileciosamente mas sem muito êxito, perdidas no nada.

sábado, 13 de março de 2010

Uma vida sem violência é um direito nosso

Mesmo diante das inúmeras campanhas, a gente se depara com notícias deste tipo, como a que vocês vão ler abaixo, extraída do Blog A Musa Sem Máscara. Os crimes contra mulheres não expressam apenas dramas individualizados, mas revelam, como uma fratura exposta, uma tragédia social ainda tão presente em nosso cotidiano, o padrão cultural de matar mulheres.  

"Companheiras e companheiros é com muita tristeza e pesar que informamos a todas e todas  militantes e dirigentes  amigos e amigas do MST, que  hoje a  tarde foi assassinada a companheira Luiza. Uma das mais combatentes e aguerridas dirigentes do MST, membro da direção estadual de Pernambuco e  coordenadora da regional Mata Norte.
Luiza Ferreira, 52 anos, mãe de 05 filhos e avó de 7 netos, foi assassinada, quando realizava uma assembléia no assentamento Margarida Alves, no Município de Aliança, onde era assentada. O assassino, foi seu ex companheiro (Pelé) durante 8 anos. Depois de cometer o assassinato se suicidou no mesmo local. O crime passional ocorreu por ciúmes da ex-companheira e porque impôs a companheira Luiza, no inicio deste ano, quando ela foi convocada pelas bases e pelos militantes da região para que assumisse a coordenação da regional do MST. Diante da imposição: Que optasse entre a tarefa política da direção do MST ou o casamento. Ela optou pela tarefa política, que infelizmente custou a sua vida". (Extraído do Blog A musa sem máscara,13/03/2010. http://musasemmascara.blogspot.com - Maria Áurea Santa Cruz)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Adeus Glauco

 Hoje fui surpreendida pela infeliz notícia da morte do  cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni Villas Boas. Fiquei triste pela forma banal como as pessoas morrem. Ontem meu filho fazendo a atividade
da escola me dizia que para ele o paraíso era um mundo sem violência. E hoje fico sabendo de mais uma dessas... Que perdurem esta irreverência semeada por ele, o humor, a crítica social, a capacidade em dizer não as injustiças e a atitude de respeitar e preservar a dignidade humana.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Feminicídio durante o Carnaval

“Morta por ciúmes”. “Sob cárcere privado por terminar um relacionamento”. “Perdeu parte da genitália em tentativa de estupro”. Estes enunciados foram retirados de três notícias que me deparei durante o Agendamento da Semana de Carnaval na mídia. Sem tanta repercussão, mesmo diante da dramaticidade dos fatos, estes acontecimentos são cada vez mais sintomáticos em relação ao aumento dos números da violência contra mulheres no País, e também na Paraíba.




Mesmo considerando o avanço tremendo da Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, as narrativas cotidianas das páginas dos jornais assustam, porque evidenciam a virulência com que os casos têm ocorrido, e mais que isto, tem deixado uma lacuna enorme quanto à ação do Poder Público, incluso o Judiciário na coibição destes episódios.


Muitas vezes o que fica é um sentimento de impotência, que talvez fosse minimizado se houvesse uma resposta mais efetiva da ação governamental disseminada com maiores desdobramentos nos Estados com foco em medidas eficientes no enfrentamento à violência de gênero, que tanto quanto a violência urbana tem características específicas e é um problema social grave a ser enfrentado.


O que temos visto com a ampliação do fenômeno da violência contra mulheres é um contexto de feminicídio, em que meninas, adolescentes e mulheres adultas quando não morrem, são usurpadas do seu direito a estar no mundo com segurança, liberdade e dignidade humana.


É difícil imaginar, em pleno Século XXI, que uma mulher pela recusa em atender aos apelos sexuais de seu marido, tenha sido por ele estuprada e perdido parte de sua genitália num ato de agressão. Este grotesco episódio que ocorreu no Brejo Paraibano, no município de Araçagi, nos coloca mais uma vez diante de uma aberração ainda maior, que diz respeito a uma indiferença social diante desta questão.