Foto: Carlos Azevêdo. Chapada dos Guimarães, 2011. |
Parece tão óbvio isso. Há dias um
desconforto me ronda. Angustia provocada por uma foto produzida em meio às
mortes na Síria, nas últimas semanas. Crianças mortas, tantas... Imensurável
dor. Fiquei pensando no “silêncio” das notícias nas páginas de revistas e
jornais. No continuum de mortes cotidianas, em diferentes lugares do Planeta...
Nessa saturação de imagens de guerras...
As notícias desorientam,
anestesiam muitas vezes. Consumimos informação quase em tempo integral, real,
tão tudo, ao mesmo tempo-agora que talvez estejamos rompendo com algo relevante
para a produção social das notícias: um tempo para pensar sobre elas; a
hierarquia dos acontecimentos talvez...
Não é possível, penso, conciliar
a imagem das crianças mortas na Síria com a saturação de imagens nas telas de
computadores, TVs, redes sociais, incluindo no mesmo tempo-espaço o
entretenimento, a piada do momento, o meme, as denúncias contra corrupção, a
cobertura do Mensalão, a vinda dos médicos estrangeiros para o Brasil, os novos
vídeos de humor no youtube ... as fotografias das comidas que digerimos como se
fossem uma mesma pauta.
É muito particular o que digo: mas
me senti tão assustada povoada com os rostos das crianças forçadas a deixar seu
lugar, sua vida. E fiquei me questionando sobre o que nos faz acreditar que
superamos a barbárie e a banalidade do século passado, ou ainda pensar que num
mundo globalizado as guerras são setoriais? E crer que só a “Liga da Justiça”
dos países desenvolvidos é capaz de promover a paz.
Talvez tenhamos entrado no Século
XXI sob o signo do terror da inconsciência, inconsistência, ou num autismo
voluntário, não sei... Sinto que dói e assusta, desestabiliza o que resta de
humano.
Por fim, essa semana, durante o
apagão no Nordeste me surpreendi com o clima de “terror”, me senti num daqueles
filmes apocalípticos, lembrei de Orson Wells, na Guerra dos Mundos. Porque era
uma agonia generalizada nas ruas da cidade de João Pessoa, no trânsito. Embora
o mar estivesse lindo, embora o apagão também fosse uma oportunidade de voltar
ao ciclo do tempo natural, nos sentíamos perdidos, desamparados sem o signo da
luz elétrica, formigas atônitas. Lembrei nesse interstício da ausência de luz
no sertão da infância, no luar, nas estrelas, nas pessoas conversando à luz de
velas e lamparinas, lembrei das histórias, dos nossos mitos. E quis esquecer o
mundo e voltar à Caverna de Platão.