sábado, 18 de abril de 2009

A vida dos outros e minha ciberexistência



Assisti hoje ao brilhante filme alemão A vida dos Outros (2007) que fala sobre o sistema de informação na Alemanha antes da queda do Muro de Berlim e também sobre a condição humana em regimes totalitários (quaisquer que sejam as bandeiras políticas, mesmo a de Um novo mundo é possível, we can!!!). Encontrei por acaso numa locadora. O filme foi o ápice da semana oceânica neste mar de informações caleidoscópicas que se tornam quase onipresentes no cotidiano das pessoas.
Comecei a semana vendo a Paixão de Cristo, nos espetáculos já tradicionais da cidade, a propaganda sugeria um Cristo contemporâneo, encontrei um Jesus lobotomizado, adornado com luminárias fluorescentes de uma loja de 1,99. A “novidade” eram as drogas, especificamente o crack no dia-a-dia dos jovens (esqueceram que a Veja noticiou uma nova canabis). No mais tudo era muito arcaico na narrativa: uma mulher representando o diabo tentando o jovem messias num tubinho vermelho básico. E, vários jovens negros nos papéis de Judas, “viciados”, dançarinos de hip-hop da periferia, ah, e médicos redentoristas salvando jovens dependentes químicos nos leitos do SUS. Cena contemporânea, estereótipo pré-medieval, a vida sob o mesmo esquadro, “pela janela do carro, eu vejo tudo em quadrados, remoto controle”.
Como se fosse pouco, vi um homem morrer na televisão, o fato narrado não era o assassinato do palestino na fronteira com Israel, mas a camisa verde do Palmeiras que ele vestia. O símbolo Palmeiras tudo, o homem nada. Qual seu nome, sua luta, sua história, seus conflitos, sua utopia, o que estava fazendo, o que iria acontecer agora? Nada, nenhuma informação além do destaque da camisa verde limão. Eu vi um homem ser assassinado friamente na TV.
Repórteres fashion-week também narraram a bulemia, anorexia e obesidade em jovens, mas num mundo da comunicação todos-todos, a narrativa perdia por falta de outras conexões com cyber-corpo, com as tecnologias do corpo, com a fabricação e idealização social dos corpos. Me pergunto: The Sun always shine on TV?
Meu filho apela: “vou colocar um chip para você voltar a dar leite”, por Freud, salve-me Donna Harahay! Pois apesar do Renil não quero ser totalmente ciborgue.
Como hoje é sábado, viva a agenda cultural: uma notícia sobre exposição intitulada Aborígenes referindo-se aos indígenas potiguara que vivem na Baia da Traição. O que custava procurar o Google, Wikipedia ou até o site do Conselho Indigenista Missionário, Funai... O olhar exógeno, as mesmas imagens: indígenas e toré, tais quais os indianos das novelas de Gloria Perez não fazendo outra coisa senão dançar, adornados, excêntricos. Estou perdendo as esperanças na “arte contemporânea local”. Sem falar no recadinho da escola pedindo coisas que lembrem como viviam os índios.

O fluxo de ciberinformações é contínuo, adeus totalidade do pólo emissor, morte nos/dos mass media. Adeus Aristóteles, viva as mediações, amanhã a gente se fala!

Sandra Raquew Azevêdo