quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mulheres Poemas...

Escrever é um ato de coragem, e um pouco de loucura. Me refiro a atitude consciente de buscar nas palavras uma forma de transcendência, política e expressão. Nas últimas décadas muitas das coisas que fiz vinculam-se a escrita, mas pelo caráter ainda sisudo das ciências, acabei por entre teses, dissertações e artigos acadêmicos vivendo, de certa maneira, um hiato - grande, porque não dizer – entre outras formas de narrar.
Entretanto foi na observação de algumas mulheres poemas que povoam meu cotidiano e imaginário que pude outra vez sentir o gosto, o desejo, de voltar a experimentar o texto, a partir de um espaço íntimo, sagrado e criativo

Irmã Agostinha Vieira de Melo(do bairro de Mandacarú), Ana Coutinho de Sales, Ana Adelaide Peixoto, Eliane Brum, Mary Judy Ress, Cicilia Peruzzo e Vitória Lima. Mulheres com diversos marcadores de diferenças entre si... e próximas por sua identidade, intimidade, autonomia, consciência e liberdade na busca diária por dizer algumas palavras. Fazendo de seus textos espaços de mediação, de vinculo social, memória, sobrevivência, transgressão, arte, restauração.
De um modo muito particular as linhas imaginárias e a tessitura dessas escritas femininas-feministas me tocaram ao longo desse último ano que marcou a entrada na Idade da Loba, num contexto no qual era necessário “cantar sobre ossos secos”, assim como La Loba, de Clarice Pinkola Estés . E retomar uma metáfora bíblica do texto de Ezequiel, em que num vale de ossos secos se vê literalmente brotar à vida, e cuja descrição assustadora e inteligente tanto poderia servir de inspiração ao George Lucas, quanto mostrar que a escuta e a descoberta das palavras que fazem sentido podem fazer renascer.

Essas mulheres sopram encantadoramente sua esperança em contextos difíceis, em solos áridos num mundo que parece às vezes desnorteado pelo excesso de verbos-imagens e ausência de sujeitos-humanos. Algumas escrevem poemas secretamente e escutam horas sem fim mistérios e sonhos de andarilhos que batem às suas portas ou que encontram nas ruas, na vida; outras provocam mulheres mundo a fora para reescrever sua própria história e falar desse tempo presente.
Às vezes elas moldam e refazem suas dores e perdas soprando suas palavras-chave como verdadeiros cristais. Elas acreditam e se deslocam de suas zonas de conforto, em direção “ao mais humano, a mais amor por tudo”.
Sei que no encontro com o silencio, a escuta, a leitura da narrativa dessas mulheres me descubro um pouco mais e sinto suas escritas como dádivas, assim como celebro o encontro das Águas (chuvas) e Terra, por tornar as estações fecundas.
Foto de Ícaro Azevedo,
escultura do artista paraibano Chico Ferreira

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