quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

72 Anos

Foto: Carlos Azevêdo

Há quase nove anos me “deixou”. Estive 63 anos ao seu lado. Mas a verdade é que me pego às vezes pensando e noutras sonhando e percebo sua presença. Em fevereiro completaria 72 anos, e esse ano imaginei como estaria essa mulher hoje: mantendo, talvez, os mesmos rituais. As plantas, às 5h da manhã, cuidando. As idas ao mercado, o café-da-manhã. As pausas para os desenhos animados. Como o casamento e a maternidade tiraram sua infância, ela a recuperou na década de 80, assistindo a desenhos animados na TV. Amava HQ’s, lia a Turma da Mônica, compreendia Dragon Ball – até hoje eu não consigo entender nada desse desenho. Não perdia o desenho um episódio de Sakura. Não era meu avesso, nem como espelho, eu era o seu reflexo. Das tantas coisas que fomos juntas conseguimos uma proeza: a cumplicidade de uma amizade.
O cochilo após o almoço, o terço (até entre as partidas de vôlei da Seleção Brasileira), o tempero de seus poucos pratos. Manteria penso, as reclamações cotidianas e os risos, o bom humor pelo qual sempre é relembrada nas rodas de conversa da família.
Apesar da “ausência” física, eu a reencontro vez por outra quando consigo tecer o fio da sutil perenidade dos afetos que não nos abandonam jamais.  Ah, ela rezava para a Lua Nova, sempre. Então nesses seus 72 anos a vi representada numa Estrela Dalva, que num entardecer de fevereiro enluarado estava juntinho à Lua Nova, entre os coqueiros de Tabatinga. Sabia que no Sagrado ela estaria celebrando aquele momento. Escutei seu sorriso vindo com as ondas daquele mar. Fiquei em silêncio profundo. E guardando a mesma cumplicidade pude seguir adiante...